Aqueles olhos verdes da cor do mar
Na vida foi guerreira, aqueles olhos verdes
Não refletiram as ondas, nunca avistaram o mar
Só contemplaram a terra flora.
Só souberam amar!
Ela nasceu numa casinha simples.
Sentindo o cheiro de mato e flores,
Mesclado ao suor dos ferroviários.
Ouvindo o atrito das rodas nos trilhos,
Que abafava o canto dos pardais e canários.
Na beira da estrada de ferro
Era a menina mais bonita vestida de chita
E contemplava as pessoas, no vaivém do trem,
Assistia vidas se cruzarem como raio, em idas e vindas,
Ouvia os causos narrados por algum zé ninguém
Tudo ali girava em torno dos trilhos do trem
As prosas do mulherio do amanhecer ao ocaso
e as travessuras da molecada contrastando com a lida,
Fogão a lenha aquecia o coração nas noites frias.
E, ela sonhava acordada com outra vida.
Longe dos ruídos das rodas rangendo nos trilhos.
Seus olhos eram lumes verdes, no rosto angelical
Ela desabrochou, bela e formosa, na mocidade
Aspirou novos sonhos e uma história de amor
À luz do dia zelava da casa e à noite de sua vaidade.
Nos trilhos da vida teve ilusões e desamores,
Pariu a filha do ventre e criou suas descendentes
Trocou suas perdas e dores por amor e apego,
Encarcerou seus sonhos num muro de concreto
E fez de seu lar, reduto seguro e aconchego.
Foi guerreira e lutou por duas gerações
Aqueles olhos verdes da cor do mar
Fundiram-se no azul celeste, não vão mais brilhar
Aqueles olhos verdes só souberam amar,
Até a luz se apagar!
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