Era um anjo levado da breca
Jeito maroto, tinha o pirralho furustreca.
Foi incumbido de ser um guardião.
Mas logo na sua primeira missão
Flanava distraído quando esbarrou num avião,
Estatelando-se no chão
Diante de mim, no meio da multidão.
O anjo de asa quebrada
Estava ali, estático, com olhar distante
O semblante triste, perdido no horizonte
Eu fiquei ali, parada, por um instante,
Atônita e assustada pela surpresa,
Sem acreditar em tamanha beleza.
Diante daquele ser com contorno prateado
Sobre sua cabeça um halo translúcido e brilhante
Nem nas mais lindas quimeras
Ou nos devaneios das noites insones
Ousei imaginar que existiriam anjos
Agora, vendo aquele ser astral
Vindo do espaço sideral
Ali caído, e, com a asa quebrada
E, eu sem saber o que fazer
Mil perguntas passando na minha mente
Viro-lhe as costas ou lhe dou um abraço
Estendo-lhe a mão para aliviar seu cansaço?
Eu me aproximei e senti seu calor
Seu olhar fez meu coração transbordar de amor
Toquei sua mão e o ajudei a se levantar
Cuidei de sua ferida e passamos horas a conversar
O anjo de asa quebrada estava perdido
Não acreditava em si mesmo
Nem que pudesse novamente voar
Mas aquela tristeza que, às vezes, sentia
Desapareceu assim que se curou
E, em si mesmo, voltou a acreditar
Pediu permissão para o mestre
E transformou-se num anjo terrestre
Mas ele tinha uma missão a cumprir
E, foi embora, assim como chegou
Eu acompanhei sua partida, petrificada
Sem conseguir dizer nada
As lágrimas escorrendo pelo meu rosto
Não que fosse de tristeza ou desgosto
Mas é que pelo anjo de asa quebrada
Acabei por sentir carinho e amor
O apego fez com eu tenha sentido dor
Em algumas noites, em sonhos.
Eu voo pelos céus e o encontro, sempre de bom humor
O anjo de asa quebrada, agora, cumprindo sua missão,
Com total competência e dedicação, como guardião!
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